Quando Obatalá chegou neste mundo, nada conhecia sobre ele e tinha curiosidade de saber de todas as coisas.
Foi por esse motivo que um dia pediu a Exu, que era seu empregado, que lhe servisse no almoço que houvesse de melhor sobre a face da Terra.
Exu, então, foi ao mercado e ali comprou uma língua bovina que, com as próprias mãos, limpou, temperou e, depois de assar, serviu a Obatalá.
Finda a refeição, muito agradecido, Obatalá disse a Exu:
- O prato que me serviste é realmente delicioso, jamais, em minha vida, experimentei algo tão bom!
Envaidecido, Exu retrucou:
- Realmente, a melhor coisa do mundo é a língua!
- Quero agora, amigo Exu, que me sirvas a pior coisa que possa existir neste mundo - pediu o Orixá Funfun.
No dia seguinte, Exu foi novamente ao mercado, de onde retornou com mais uma língua bovina. Novamente preparou-a da mesma forma que a anterior e serviu-a a seu amo.
Depois de comer, Obatalá repreendeu Exu:
- Quer me parecer que não entendeste bem o meu pedido. Ontem me serviste uma língua como sendo a melhor coisa do mundo, comi e gostei, aprovando inteiramente a tua escolha. Em seguida te pedi que me servisses, hoje, a pior coisa do mundo e, mais uma vez, me serves língua. O sabor é exatamente o mesmo da que me foi servida ontem e gostaria de saber como pode uma coisa ser, ao mesmo tempo, a melhor e a pior coisa do mundo. Ou será que se trata de mais uma de tuas brincadeiras?
- Não, grande Orixá, não se trata de nenhuma brincadeira. Jamais agi com tanta seriedade e segurança! – assegurou Exu.
- Explica-me então o que pretendes pois, confesso, não consigo entender onde queres chegar – replicou o Orixá Funfun.
Com ar sério, Exu começou explicar:
- A língua é, sem duvida, a melhor coisa do mundo e, contraditoriamente, pode ser a mais perigosa e ruim de todas.
Quando é usada para coisas boas tais como abençoar, fazer preces em louvor aos Orixás, orientar corretamente, cantar a boa música, recitar poesias, falar de amor e ensinar os bons costumes é, então, a melhor coisa do mundo.
Quando, ao contrario, é utilizada para caluniar, amaldiçoar, mentir, fomentar a discórdia e a guerra, torna-se letal. É a pior de todas as invenções de nosso pai Olodumare e melhor seria que nunca existido. Tudo depende da forma como é usada por seu dono, para que possa ser classificada como a melhor ou pior coisa do mundo.
E foi então que Otatalá, compreendendo o ensinamento que lhe era dado por Exu, nunca mais aceitou língua em suas refeições.
Essa lenda de Exu foi retirada do livro, Lendas de Exu, esse excelente trabalho, escrito por Adilson Martins, publicado pela Editora Pallas, faz com que o leitor possa conhecer mais e viver nos textos aspectos que trazem tradições orais, dando narrativa uma ordem simbólica que é também homenagem a esse ser tão querido e temido, que é Exu.
Assim, o livro Lendas de Exu, oferece ao grande público um ampliado contato com a mitologia e com a sociologia da fé.
Lendas de Exu, você encontra em nossa loja, ou através do número 51 3434.1203 e em breve na loja virtual
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Rodrigo d’Xapanã