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Quem somos?

Esse blog tem intuito de difundir o batuque do Rio Grande do Sul. A base do blog é as pesquisar feitas por seu fundador, Rodrigo Heck. Cujo é Babalorixá da nação de Cabinda, e também cacique de Umbanda e Quimbandeiro. Os textos aqui publicados têm referencias bibliográficas de livros, internet e textos obtidos nos fóruns que o autor participa. Esse blog é aberto à discussão, e pedimos a colaboração de todos os amigos que visitarem que deixem seus comentários, sugestões e criticas, para que possamos melhor a cada dia nosso trabalho.

Jogo de búzios e cartas com hora marcada

Jogo de búzios e cartas com hora marcada

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terça-feira, 15 de agosto de 2017

domingo, 13 de agosto de 2017

A alimentação é uma das primeiras necessidades humanas e “acompanha a vida, mantendo-a na sua permanência fisiológica” . Pode-se pensar que essa também é uma necessidade dos animais ou de todos os seres vivos. Entretanto, a alimentação proposta neste trabalho é acompanhada por conceitos que não a restringem apenas ao ato nutricional. O envolvimento afetivo do homem com o alimento, o gosto e a sociabilidade proporcionada por tais elementos fazem com que a alimentação invada o campo das ciências humanas.

A alimentação liga, primeiramente, o homem ao seu próprio organismo quando satisfaz a necessidade biológica da nutrição. É também uma de suas primeiras formas de sociabilidade ligando-o aos outros homens, desde o nascimento, quando é amamentado pela mãe, passando pelas merendas na escola, os almoços de negócio e os jantares românticos. Há ainda uma dimensão permeada pela alimentação em que o vínculo é criado entre homens e divindades, a dimensão da espiritualidade. Uma grande parte das práticas religiosas está ligada ao ato de comer (ou de não comer). As festas dedicadas aos deuses provedores dos alimentos nas religiões indígenas, o jejum em períodos de sacrifício como a Quaresma ou o Ramadã, a Eucaristia que consiste em comer o corpo e beber o sangue de Jesus Cristo, a proibição de ingerir carne de porco no Judaísmo ou de vaca no Hinduísmo são alguns exemplos disso.

Os Filhos-de-Santo têm obrigações para com as divindades, especialmente com aquela de sua origem. Um filho de Iemanjá, por exemplo, tem que tratar com carinho o seu Santo, dando-lhe as comidas que ele gosta, as flores de sua preferência. Da mesma forma, tem compromissos com outros Orixás, deve satisfazê-los e relembrá-los principalmente em seu dia de festa, ou ainda por alguma necessidade específica que o Orixá pode intervir. Pierre Verger defende a mesma visão de Vogel quando fala que “nada se faz sem consultá- los e garantir sua proteção. Os homens gozam da abundância e da prosperidade se souberem satisfazê-los e, ao contrário, as catástrofes e calamidades sucedem-se na terra se esses deuses forem negligenciados ou ofendidos.”

Reginaldo Prandi, em A Mitologia dos Orixás e Pierre Verger, em Orixás, contam duas versões sobre como Iansã passou de mulher de Ogum para uma das esposas de Xangô. Prandi escreve que Xangô, indo visitar Ogum certa vez, conheceu sua linda mulher, Iansã, e se apaixonou. Fingiu-se de doente para que Ogum o recolhesse em sua casa e Iansã lhe desse de comer. Assim como o previsto, Iansã fez seu prato favorito, o Amalá, colocando junto em seu preparo um ingrediente dado por Xangô, um pó. Xangô a preveniu para que não provasse da comida por causa da substância acrescentada, recomendação não atendida por Iansã. Xangô, que é dono dos raios e trovões, bem como do fogo, deu o pó mágico a Iansã, sabendo de sua curiosidade, para lhe dar o poder de soltar fogo pela boca e cuidar dos ventos e tempestades. Ogum não quis mais sua mulher depois de vê-la soltando fogo pela boca. Iansã então, casouse com Xangô. Verger acentua as diferenças entre o deus do ferro e da guerra, Ogum, com sua ira e deselegância e o deus do trovão, o Rei Xangô, polido e charmoso. Iansã, casada com Ogum, se apaixona por Xangô e decide fugir com ele. Ogum, enfurecido, lança-se numa perseguição ao casal até que os encontra. Em meio à luta, Ogum com sua espada atinge Iansã que se divide em nove. Também diz essa lenda, contada por Verger, que Iansã não podia ter filhos, pois não obedecia às proibições alimentares. Quando, depois de consultar um babalaô, seguiu as prescrições e fez oferendas foi mãe de nove crianças.

O sistema mítico do culto aos Orixás tem como característica explicar fenômenos da natureza, a criação do mundo, dos homens, da vida e da morte. Trata também do cotidiano dos Orixás, de como viviam, seus amores, guerras, casamentos, festas e sua relação com o ambiente. Xangô é considerado não apenas Rei de Oyó em sua trajetória mítica, mas também é o regente do raio e do trovão e o Orixá da justiça simbolizando seu dom de governante. Oxum é a deusa das águas doces, cachoeiras e lagos. Também cuida das crianças recém nascidas, pois é a deusa da fertilidade. Como um rio traz abundância à terra e riqueza de colheitas, assim faz o Rio Oxum. Por esses exemplos é que Verger explica que o culto aos Orixás está, então, ligado às forças da natureza assim como aos ancestrais divinizados, o que constitui “um vasto sistema que une os mortos e os vivos em um todo familiar contínuo e solidário. A ligação mística com os ancestrais divinizados é constante e ativa.”

 

terça-feira, 8 de agosto de 2017


"Pouco antes de Morrer, Odudua, soberano de Oyó, chamou a Xangô e lhe impôs um desafio. 
Pediu que ele cozinhasse com suas próprias mãos para todos os Orixás e para ele, o Rei, fizesse o prato que considerava o mais especial e delicioso de todos.

Xangô prontamente se pôs à realizar tal missão. Serviu à todos os Deuses suas oferendas prediletas e à Odudua, entregou um prato feito à base de língua de boi.
Ao receber a comida, Odudua ficou espantado e desgostoso ao perceber que Xangô havia lhe ofertado tal iguaria sendo esta, uma parte do animal geralmente descartada pelos habitantes de Oyó. Mesmo assim comeu e repetiu, tecendo elogios à Xangô.
Não entendendo porque Xangô considerou a língua um prato especial, delicioso e digno de um Rei, Odudua pediu que Xangô novamente servisse os Orixás e para ele, dessa vez, cozinhasse o pior e mais repugnante dos pratos.
Novamente foram servidos os Deuses e para Odudua foi entregue o mesmo prato de língua que foi feito na primeira vez.
Odudua ficou irado e aos gritos perguntou à Xangô:
"Pedi à você o melhor dos pratos e me trouxe língua, um miúdo reservado à prisioneiros. Mesmo assim comi e apreciei. Agora lhe peço a pior iguaria e novamente me oferece língua, feita da mesma forma que da primeira vez. Como um prato pode ser o melhor e o pior de todos se feito com os mesmos ingredientes?"
Xangô então respondeu à Odudua: "A língua pode representar a melhor das armas quando é utilizada em prol da diplomacia e do crescimento, e infringir a pior das derrotas quando age à serviço da calúnia, da mentira e do falso moralismo.
Por tal motivo, pode perfeitamente assumir duas missões distintas dependendo de quem à usa e para que fim à usa".
Odudua ficou totalmente impressionado com a inteligência e a maneira como Xangô resolveu suas missões, provando estar pronto para Reinar sobre Oyó com justiça, sabedoria e capacidade de discernimento.
A partir disso, à Xangô foi dado o domínio da língua, da escrita, da oratória e de todas as suas vertentes.
À nos é dada a fala e ao dominarmos a comunicação, nos tornamos senhores de todas as criaturas vivas.
No entanto, o maior dos desafios é controlar aquilo que falamos e transformarmos nossa língua no melhor dos pratos, todos os dias e em todas as refeições."

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Texto de autoria de Alexandre Honorato Custódio:
“Batuque é uma forma genérica de denominar as religiões afro-brasileiras de culto aos Orixás, encontrada principalmente no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, de onde sua diáspora se estendeu para outros estados e países vizinhos tais como Uruguai e Argentina.O batuque é fruto cremos que dos povos oriundos África de regiões onde hoje se situam Nigéria e o Benim. Aqui sendo adotado por povos que chegaram oriundos de outras regiões onde hoje se situam a Costa da Guiné.
Divindades:
O culto, no Batuque, é feito exclusivamente aos orixás, sendo o Bará(Exu) o primeiro a ser homenageado antes de qualquer outro pois este é o orixá da comunicação, e encontra-se seu assentamento em todos os terreiros. Os principais orixás cultuados são: Bará, Ogum, Oiá-Iansã, Xangô, Ibeji (que tem seu ritual ligado ao culto de Xangô e Oxum), Odé, Otim, Oba, Osanha, Xapanã, Oxum, Iemanjá, Nanã, Oxalá e Orunmilá (ligado ao culto de Oxalá). E há também divindades que nem todas nações cultuam como: Gama (ligada ao culto de Xapanã), Zína, Zambirá e Xanguín (qualidade rara de Bará). Apesar de considerarem muitas divindades Voduns, sabemos que os Ioruba já vieram cultuando estes Vodun que atualmente se encontram no Batuque como Orixás, assim como Johson registra em seu livro “The History of the Yorubas” pub em 1895, que Xapana e outras divindades Vodun já eram cultuadas por eles.
O Batuque possui centenas de casas e inúmeros praticantes e adeptos.
O Batuque Possui:
– Rituais próprios para feitura e desligamento.
– Jogo Próprio.
– Cozinha ritualística própria adaptando o que temos no Sul como oferendas as divindade.
– Assentamentos, Paramentação e ferramentas próprias para cada divindade.
– Orins próprias.
– Disposição dos Orixás dentro do quarto de santo
– Divindades que são cultuadas dentro do templo e fora dele
Em comum em todas as tradições do batuque vemos:
– Xangô (Rei em quase todos as Tradições): Rei de Oyo. Oyo nós dias de hoje, Cidade Na Nigéria onde o Alafin líder religioso e político acredita-se ser descendente direto. O que não quer dizer que o batuque possui ligação com a religião praticada lá.
– Kassum (Balança): Mesmo nos lados onde Xangô não é o rei a balança é feita entre suas orins (cantigas/rezas) sendo ele quem deve julgar a Obrigação.
– Rituais (oribibo, bori, etc.): guardando as diferenças em todos os lados seguem mais ou menos os mesmos passos.
– Orins (Rezas cantigas, chamadas de rezas por alguns adeptos, mas não são rezas, são apenas cantigas): Praticamente as mesmas, guardando também algumas diferenças.
– Sequencia Toque: Praticamente as mesmas, guardando também algumas diferenças.
A de se fazer um adendo para o Oyo Ibomina onde a uma diferença maior quando a sequência em que os orixás são dispostos no toque. Bom, os povos que aportaram no Rio Grande do Sul vindos das regiões citadas acima não desceram aqui com um culto formado mais fica claro que o panteão Ioruba é o panteão adotado pelo batuque para a formatação culto.
As diferencas existem sim mas não tão marcantes para caracterizar cada tradição como uma nação religiosa. Como vemos no candomblé como Ketu (Orixá), Angola (Inkisis) e Jeje (Vodun) quanto as divindades cultuadas . Nossas diferenças são mais de cunho familiar (qualidades diferentes de Orixás, métodos adotados na feitura, sequencia como são saudadas as Divindades(Orixás) etc..).
Deixando claro que no Sul não existe somente o batuque temos outras formas de culto para outras divindades como Os Voduns, Inkisis etc. Que também são divindades africanas mais pertencem a outro panteão que não o Ioruba e possuem ritos e oferendas próprias.”
Erick Wolff sobre “Nações”
“Nos diversos segmentos religiosos afro-brasileiros todos querem legitimar-se afirmando que sua “nação” é originalmente oriunda de solo africano, desta ou aquela região, iniciado por fulano ou ciclano cujo nome jamais poderá ser checado, supostamente nascido na África. É louvável o desejo da legitimização africana, se não fosse ilusório.
Todas as nações religiosas afro-brasileiras, de todos os segmentos, nasceram no Brasil, são afro-brasileiras, não são africanas, não representam nenhum Estado ou Cidade africana, não praticam nenhum culto na forma tradicional africana mesmo que possuam nomes de cidades africanas em suas definições afro-sociais. É verdade que foram formadas por elementos de matrizes africanas aqui repensadas e reestruturadas, mas estas heranças culturais e religiosas não fazem de nenhuma nação de religião afro-brasileira uma nação pura africana…
…A nação afro-brasileira de Kétu refere-se a uma nação afro-religiosa do candomblé, e não à cidade ioruba africana de Kétu, localizada no Dahome. (José Beniste)…A nação afro-brasileira Angola refere-se a uma nação afro-religiosa do candomblé, e não ao país africano de Angola….A nação afro-brasileira Jeje refere-se a uma nação afro-religiosa do candomblé, batuque ou tambor de mina. Segundo o professor Reginaldo Prandi (USP), não existe nenhuma nação política denominada “jeje” em solo africano. O mesmo vale para a nação religiosa afro-brasileira “nagô”…
…A nação religiosa afro-brasileira kambina, do batuque, refere-se a uma nação religiosa criada e estrutura aqui no Brasil, tanto quanto as outras, e não à alguma cidade ou nação na África. Se as outras aqui formadas são legítimas para o Brasil, a kambina também é. Alguns sacerdotes tentam equivocadamente afirmar que a kambina trata-se de Cabinda, província de Angola, apenas pela semelhança do nome”.
Comentário de Hùngbónò Charles:
Nota-se pelo esclarecimento do autor, que ao nos referirmos à religião denominada Batuque do Rio Grande do Sul, estamos falando de uma religião onde a cultura yorubá e culto de suas divindades – Os Orixás – são a base e a estrutura da mesma, com alguma ou outra influência dos denominanos “jejis” e/ou de suas divindades voduns. Analisamos diversas subdivisões dentro do Batuque do RS, denominadas Kanbina (muitos consideram Cabinda, no entanto não há evidências de sua procedência com a região de Cabinda no continente africano, nem mesmo cultuam divindades bantu), Oyó (e Oyó Igbomina), Jeje (cultua igualmente Orixás, atribuida esta raiz a Custódio Joaquim de Almeida, o qual se acredita ser o príncipe do antigo Reino de Benin, no entanto há divergências históricas quanto a esta figura; vide https://ocandomble.com/2016/02/01/o-principe-custodio-de-xapanasakpata-erupe-e-seu-culto-nago/ , Ijexá e Nago;
A ocupação ou manifestação do orixá é tida como tabu e não deve ser comentada.
No Batuque não existem divisões de cargo tal como existe no Candomblé, no entanto há uma hierarquia que segue:
Babalorixá e Iyalorixá – respectivamente o Pai e a Mãe de Santo; muito embora alguns sacerdotes atuais usem nomenclaturas como Voduno ou Gayaku, tais nomenclaturas não fazem parte nem são utilizadas de maneira correta para se referir aos cargos sacerdotais do Batuque;
Alagbé – é aquele que toca e canta os orins;
Pronto com faca e búzio – é aquele que já é mais velho e já passou por todas as obrigações, análogo ao Egbomi do candomblé;
Pronto – Já passou pelas obrigações, no entando ainda não ganhou direito à faca nem aos búzios;
Borido – aquele que realizou apenas o Borí;
“Cabeça-lavada” – é a pessoa que passou apenas pelo Omieró, o ato de lavar a cabeça com ervas;
A Festa do Batuque

Após as obrigações cumpridas e encerrada a Levantação (nome dado ao término das obrigações pois como diz a palavra, será levantado todas as frentes que ficaram em um determinado tempo dentro do Quarto-de-Santo), será tocada a Festa, o Batuque.
Normalmente como em uma festa social, muitos convites foram distribuídos para outras Casas de Religião, fiéis e até mesmo curiosos.
O Pai ou Mãe-de-Santo, ajoelhado em frente ao Quarto-de-Santo (lugar onde fica os assentamentos dos orixás), juntamente com todos seus filhos e demais convidados de Religião, tocando a sineta, faz a chamada de todos os Orixás de Bará a Oxalá com suas saudações específicas, pedindo a cada Orixá as coisas que a eles competem. Terminada a chamada, o Pai-de-Santo autoriza o tamboreiro a começar o toque, que correrá em ordem de Bará a Oxalá. Todos que estão na roda dançam com as características de cada Orixá ao qual está sendo tocada a reza, como por exemplo na reza do Bará, todos dançam como se abrindo portas com uma chave em punho na mão direita, já que este Orixá é o dono da chave e abertura dos caminhos, na Reza do Ogum, os fiéis dançam com a mão direita como uma espada tocando a mão esquerda.
Casa do Bará Lodê

terça-feira, 1 de agosto de 2017


Uma iniciativa conjunta dos vereadores Guto Lopes – PSOL, Adão Pretto Filho – PT e Dilamar de Jesus – PSB, resultou na criação do projeto de lei 169/2017, para a criação da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Tradicionais de Terreiro de Viamão. A proposta visa atender os anseios e as reivindicações do Povo de Terreiro, através da Comunidade Africanista e Umbandista da cidade.
A ideia é formar um espaço para debates sobre questões relacionadas ao Povo de Terreiro, a fim de propor estudos e soluções que afetam os viamonenses. A Frente Parlamentar Municipal do Povo de Terreiro vai promover e organizar atividades, debates, simpósios, seminários e outros eventos relativos à temática.
Nesta quinta-feira (13), os vereadores, juntamente com o presidente da Associação Africanista e Umbandista de Viamão, pai Washington de Oxalá, e o representante da Comunidade Africanista, Rodrigo de Xapanã, protocolaram o PL. A Frente Parlamentar propõe estreitar a inter-relação entre a comunidade e o Legislativo na luta pelo reconhecimento dos direitos do povo negro e a busca por um mundo sem opressões, pois lutará para que os direitos constitucionais conquistados não sofram nenhum retrocesso.



Reportagem Oficial http://camaraviamao.rs.gov.br/vereadores-propoem-frente-parlamentar-em-defesa-dos-povos-tradicionais-de-terreiro/