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Esse blog tem intuito de difundir o batuque do Rio Grande do Sul. A base do blog é as pesquisar feitas por seu fundador, Rodrigo Heck. Cujo é Babalorixá da nação de Cabinda, e também cacique de Umbanda e Quimbandeiro. Os textos aqui publicados têm referencias bibliográficas de livros, internet e textos obtidos nos fóruns que o autor participa. Esse blog é aberto à discussão, e pedimos a colaboração de todos os amigos que visitarem que deixem seus comentários, sugestões e criticas, para que possamos melhor a cada dia nosso trabalho.

Jogo de búzios e cartas com hora marcada

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segunda-feira, 13 de abril de 2015


Àgo ye ègbón!

Existem três temas muito freqüentes nas discussões nas comunidades sobre religiões afro-brasileiras: a balança, saber ou não que se ocupa e o Orixá Xangô Kamuká. O texto a seguir é parte de uma das discussões mais qualificadas de que já participei. Tentar falar sobre este Orixá tão introspectivo não é uma tarefa das mais fáceis para mim tendo em vista que sou da Nação Ijexá.
Digo isso porque a Nação Ijexá não cultua esse Orixá. Xangô Kamuká é um Orixá exclusivo da Nação Cabinda por isso peço antecipadas desculpas aos cabindeiros por qualquer erro que eu possa manifestar no que concerne a prática, cultura, tradição ou fundamentos dessa divindade tão enigmática.

O que sei sobre Kamuká é o que aprendi aqui e ali, com o que os cabindeiros me falavam ou com pessoas de outros lados que conheciam alguma coisa dele, além do que li em poucos livros como o do escritor e Babalorixá Paulo Tadeu Barbosa Ferreira e o do Prof. Dr. Norton Figueiredo Corrêa, além do que é postado nos tópicos das comunidades como: “Nação Cabinda”, “Batuque do RS” e “Sou Batuqueiro Sim e Daí”. E o que sei é que Kamuká só seria cultuado na cabinda e que nenhuma outra nação deveria ou poderia cultuá-lo, pois esse Orixá é o do fundador dessa nação.
O que sei também é que o assentamento desse Orixá é feito no balé, pois teria ele grande aproximação com eguns. Meu tio-avô carnal, Cláudio de Oxum Docô, falecido babalorixá de Cabinda me disse inclusive que nem devemos pronunciar esse nome (Kamuká) dentro de casa, pois poderia atrair algum tipo de mal, porém sou totalmente cético sobre isto. Dizem ainda que Kamuká reside no cemitério, mais precisamente no forno (lugar onde se cremam os ossos) e que, por conta disso, se prestaria só ao dano. Esses são alguns dos motivos pelos quais não se dá cabeça de filhos para esse Orixá (que a essa altura me pergunto se é Orixá mesmo).

Vejam bem, não estou afirmando nada, estou apenas relatando o que me contaram. 





Por outro lado tenho minhas pesquisas históricas e o que encontrei é que, segundo Norton Corrêa, quem fundou a nação Cabinda em Porto Alegre foi um africano chamado Gululu. No entanto a insistência dos descendentes de Cabinda em afirmar que o surgimento dessa nação se dá com o Esá (título que se dá a pais e mães-de-santo falecidos) Valdemar Antonio dos Santos, me leva a questionar se Gululu e Valdemar não seriam a mesma pessoa.




Cabinda é uma região da África que já foi independente, mas que hoje é uma província de Angola. Seus habitantes são originários do tronco lingüístico bantu e são os Bakongo, Bauoio, Baluango, Basundi, entre outros. Gululu é um nome notadamente bantu.Acredito que Gululu seja oriundo de Cabinda, provavelmente bakongo, pois essa etnia veio traficada para o Brasil em grande quantidade. Os Bakongo (singular Nkongo) cultuavam os Nkisi, espíritos mágicos ligados à natureza ou aos ancestrais. Na metafísica dos bantu, os Nkisi pertenciam ao seu lugar de origem e jamais eram movidos de lugar. Por isso, quando eles vieram para o Brasil, seus Nkisi ficaram na África. A sua profunda religiosidade os fez, então, serem atraídos para as religiões que conheceram aqui no Brasil. O catolicismo e as crenças indígenas os influenciaram e sincretizando-as com suas próprias crenças acabaram por dar origem à tão conhecida religiosidade popular do brasileiro.

Os sudaneses (complexo cultural Jeje-Nagô) vieram em menor número durante todo o processo escravagista sendo que em grande quantidade só a partir de século XIX. Diferentemente das crenças bantus, na metafísica dos sudaneses para onde iam suas divindades e ancestrais os acompanhavam. Por isso, ao chegarem no Brasil, trouxeram consigo sua cultura religiosa. É bem provável que uma parte dos bantus também tenham migrado para a religião desses sudaneses cultuando os Orixás.
É possível que Gululu seja um desses africanos de origem bantu que aprendeu a cultura dos Orixás aqui no Brasil com sudaneses, mas resolveu fundar uma sociedade religiosa com negros originários da mesma região, batizando sua nação, então, de Cabinda. Isso explicaria a cultura de Orixás e Voduns na nação de Cabinda que deveria cultuar Nkisi, mas não o faz. Mas isso não explica o Kamuká no culto.

Existe em Angola - bem distante de Cabinda por sinal - uma etnia bantu denominada Mbundu/Kamuka (http://www.embaixadadeangola.org/cultura/linguas/l_mbunda.html). Isso não diz muito exceto que a origem do nome Kamuká, agora comprovadamente, é bantu. E se hipoteticamente Gululu for o nome africano de Valdemar já que os escravizados eram batizados com nomes ocidentais quando chegavam no Brasil? Daí a coisa começa a se encaixar. Kamuká pode ser um Nkisi nsi, espírito ancestral ligado a um clã familiar. Esse espírito pode ser de um ente falecido que volta incorporado num descendente seu. Como se vê, a cosmogonia dos bantus é bem diferente da dos sudaneses. Entre esses últimos, espíritos de ancestrais (eguns) e divindades (Orixás) não se misturam e só os Orixás é que podem tomar “emprestado” o corpo de um humano.
Agora refletindo: se Valdemar (ou Gululu) cultuava Kamuká por que este era o Nkisi nsi de sua família, fica explicado o porquê de Kamuká não pegar mais filhos, nem de poder baixar em alguém. Por outro lado, também fica explicado do porquê desse “Orixá” ser cultuado próximo ou junto ao balé, pois na cosmogonia iorubá Kamuká seria um egun.
Espero ter contribuído para despertar o interesse nessa pesquisa. Por outro lado peço paciência para comigo aos cabindeiros que cultuam Kamuká de forma diferente da descrita nestas poucas linhas e sobretudo aos que não são da Nação Cabinda mas que também cultuam esse grandioso Orixá.


Pùpó Àṣẹ gbogbo!

Fonte: Site Ọ̀rúnmìlà
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2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Muito ainda precisa ser pesquisado e dito sobre o Batuque, sobretudo em relação a Nação Cabinda, que segundo me parece veio a influenciar fortemente
    toda essa tradição religiosa. Sobrepujando todas as outras nações, que inicialmente a constituíam, servindo-lhe então de modelo.

    A explicita massificação do Batuque, de certo não é aleatória. Mas sugere que está a reproduzir um padrão preestabelecido no passado, advindo provavelmente de expressivos fatos históricos, ainda desconhecidos. Ao que tudo indica, relacionados a Nação Cabinda.

    Sobre a própria Nação Cabinda,
    há várias evidências que sugerem não tratar-se de fato de uma reminiscência culturais e religiosas de origem Banto. Mas sim, Nagô-Yorubá.
    Dentre essas evidências, podemos destacar o polêmico Xangô Kamuká (também dito Xangô Kamuká Baruálofina), patrono espiritual da Nação Cabinda.
    É interessante observarmos, que esse caminho-qualidade de Xangô nos remete imediatamente a mítica humanização desse Orixá. Descrito nos mitos, como tendo sido um rei, que após ter morrido foi deificado. Logo, seria em verdade um Egum.

    No entanto, essa lógica de raciocínio, faz com que essa divindade se distancie das tradições Banto. Que não consideram as divindades (Nkisi -Inkices), como sendo espíritos ancestrais vinculados a um clã familiar. Mas sim como seres acima da compreensão humana, vinculados a fenômenos naturais, aos habitats da natureza e que nunca tiveram vida terrena.

    É provável que Xangô Kamuká, seja oriundo de um antigo (e desconhecido) culto à ancestralidade real yorubá, mais especificamente de Oyó. E talvez, também de Ilê Ifé.
    Somos levados a essa dedução, ao pesquisarmos o culto aos ancestrais da realeza do antigo Daomé. Que de forma excepcionalíssima, foi implantado no Brasil, possivelmente por altos dignatários da realeza escravizados.

    Sabemos que o Daomé, foi ao longo de toda sua história, fortemente influenciado pela cultura yorubá. Havendo uma forte preponderância, em ambas culturas, da veneração aos ancestrais. Cabíveis, a exemplo do Daomé (mais também entre os Yorubás), a se "materializarem" após a morte, através do transe mediúnico.

    Apesar de conhecermos particularidades, desse culto de veneração aos ancestrais (da realeza), no antigo Daomé. Muito pouco sabemos sobre o culto aos ancestrais notáveis, entre os yorubás. Envolto em mistérios.

    Nos respaldando nessas evidências,
    somos levados a crer que Xangô Kamuká, poderia ser o indicativo de um antigo (e ainda desconhecido) culto voltado a veneração de notáveis reis yorubá e notáveis membros da corte. Isso justificaria, os vagos comentários feitos a cerca da existência dos sepulcros de Oduduwa e Orunmilá. Assim como os enigmáticos desaparecimentos, do cadáver de grandes reis, a exemplo de Xangô.

    Outro fato interessante,
    é que no Batuque houve uma possível sobrevivência de costumes oriundos de Oyó,
    tanto é que sacerdotes antigos se dizem da Nação Oyó. Mas que, a princípio, diluiu-se em função de uma influência da Cabinda. E nos perguntamos, porquê ?

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